domingo, fevereiro 23, 2003
Depois de termos reflectido sobre o papel do professor no discurso, surge naturalmente a questão do papel do aluno no discurso. Se defendemos a ideia de que o aluno deve ter um papel importante na construção da sua aprendizagem não podemos esquecer-nos da importância do seu discurso. É através dele que muitas vezes nos apercebemos de pequenos erros ou falhas. Os alunos devem usar uma diversidade de ferramentas para raciocinar, estabelecer conexões, resolver problemas e comunicar como nos recomendam as normas. Costuma-se dizer que é a falar que as pessoas se entendem… penso que deve ser um provérbio que devemos incutir nos nossos alunos. Os alunos não estão muito habituados a exprimirem os seus raciocínios e a falarem matematicamente e nós como professores temos o dever de promover esse papel uma vez que permite explorar a sua capacidade de argumentação permitindo com maior facilidade verificar ou refutar afirmações do professor ou dos próprios colegas. É muito comum ainda hoje após uma pergunta: “Concordas com o teu colega? Porquê?”, ouvir-se: “Concordo, porque o professor não disse que estava errado.” Esta é a posição de alunos sem vontade própria, são como uma esponja que absorve o que apanha… Temos que transformar estes alunos, fazendo com que criem um filtro e só aceitem o que acham lógico e verdadeiro, questionando todo o resto. É questionando e desfazendo dúvidas que se aprende e se evolui. O que seria do Homem se não tivesse posto em questão a ideia de que a terra era quadrada? Os alunos devem estar activos e prontos a reflectir sobre o que ouvem ou lêem. Um outro factor importante é permitir que usem e se habituem a usar todas as ferramentas de que dispõem, fazendo conexões com tudo o que conhecem até ao momento. No episódio de Mrs. Fondant realça-se o facto de através de processos distintos os alunos chegarem à mesma solução para o problema. Este episódio fez-me lembrar uma situação que se passou comigo numa aula do oitavo ano, em que pedi que resolvessem um problema (A soma de três números pares consecutivos é 48. De que números estou a falar?). Surgiram duas resoluções, uma por tentativas (tendo alegado a aluna que como a soma era 48 os números seriam maiores do que dez, tendo chegado aos números tentando somar pares consecutivos a partir de dez) e outra que me surpreendeu pois não me tinha ocorrido que algum aluno pudesse resolver o problema daquela forma (a aluna dividiu 48 por três, tendo calculado o número médio e de seguida citou o par seguinte e o par anterior). Por acaso para o seguimento da aula nenhuma destas resoluções eram a que me interessava uma vez que queria rever a resolução de equações. No entanto tratou-se de um momento interessante, permitindo a reflexão sobre a forma de raciocinar destas alunas e o reforço da ideia de que podemos sempre utilizar a ferramenta que queremos desde que se chegue à solução correcta.