Práticas de (des)orientação

As actuais recomendações da Educação Matemática sugerem que no desenvolvimento da sua prática pedagógica os novos professores tenham oportunidades de concretizar diferentes experiências na sala de aula. Com essas experiências pretende-se debater concepções enraízadas ao longo da sua formação, reconstruí-las e desenvolver pedagogias alternativas. Para que isto aconteça, há que criar um ambiente que incentive os novos professores a inovar a sua prática. Até que ponto as práticas de formação de professores se aproximam destas recomendações? Como realizar experiências quando não têm turmas próprias? Quando nem todos os intervenientes no processo de formação são apologistas de desenvolver determinadas experiências?
De facto, a realidade é outra!

Aulas de substituição
Qual a finalidade? Evitar o ruído pelos corredores, de modo a não perturbar o desenvolvimento das outras aulas? Ocupar os alunos? A medida tem o seu valor pedagógico, mas como rentabilizá-la de modo a não elevar os constrangimentos dos alunos e dos professores? Evitando o vale tudo para que os alunos estejam entretidos, temos que encarar a realidade de que hoje em dia a nossa formação, enquanto professores, tem que ser multifacetada. Não se pode estar confinado ao saber específico de uma só área disciplinar.

Portaria que regulamenta os estágios pedagógicos a partir do ano lectivo 2005/06(portaria nº1097/2005 de 21 de Outubro): http://www.dre.pt/pdfgratis/2005/10/203B00.PDF#page=19

Os estagiários dos cursos do ramo educacional das universidades deixam de ter turmas atribuídas, perdendo, assim, o direito a qualquer remuneração. Razões meramente economicistas ou formativas? A medida decidida pelo Conselho de Ministros é para a Federação Nacional dos Professores um retrocesso na melhoria da qualidade de ensino. Dará para ser estudado? Nesta "reforma", a responsabilidade de distribuição dos estagiários pelas escolas tende a ser das Universidades, na procura de escolas com disponibilidade para a prática pedagógica dos novos professores e dos respectivos orientadores. Esta medida já há muito devia ser tomada! Mas importa agora ir ao fundo da questão. Para quando uma reflexão sobre o perfil de quem orienta? em que modelo de formação?

O conteúdo da mensagem anterior leva-me a interpelar determinadas práticas. Por mais que hajam orientações dos normativos curriculares a recomendar a dinamização de estratégias com referência à actividade do aluno, a voz mais activa na sala de aula a do professor tende a prevalecer. Algumas dessas recomendações apelam à utilização de determinados recursos, como por exemplo da tecnologia, mas na prática a falta de tempo para cumprir o programa é a razão invocada para a sua não utilização. Como os alunos adquirem o conhecimento matemático? Será, na forma de cada um ver o ensino de Matemática, mais importante ter a consciência de que se conseguiu desfolhar todas as páginas do manual? Ao longo de tanta aulas, não haverá tempo para dinamizar, em alguns momentos, algumas experiências? Não será importante para o crescimento profissional do professor de Matemática procurar analisar e confrontar o impacto dessas experiências na aprendizagem dos alunos? O problema é que à frente da supervisão da formação pedagógica dos novos professores há quem considere tais experiências uma perda de tempo!

Todos os alunos devem aprender a pensar matematicamente e devem pensar matematicamente para aprender.

Após mais uma campanha política, que promessas ficaram no ar sobre a problemática da Educação? Que modelo consegue sobreviver à inconstância política em que vivemos? Quem se preocupa com os licenciados desempregados que parece tender a aumentar? Não é qualquer país que se dá ao luxo de ter pessoas "Letradas" nessa situação! Será uma forma de sobreviver ao choque da sociedade em que vivemos? Que continuidade darão à sua formação? Que formação?