domingo, junho 22, 2003

Partindo do pressuposto que todos reconhecemos a relevância do acompanhamento dos pais em relação aos seus filhos para o sucesso escolar dos mesmos, pareceu-me interessante partilhar convosco alguns aspectos que encontrei num documento elaborado pela Doutora Adelina Vilas-Boas da Universidade de Lisboa.
Inicialmente é referido que muitos são os estudos desenvolvidos em vários países do mundo e, também em Portugal que têm demonstrado as vantagens de uma colaboração mais estreita entre a escola, as famílias e as comunidades. Apesar da legislação vigorante apoiar este envolvimento, as dificuldades são muitas e as escolas parecem não ter capacidades para contrariar os padrões tradicionais de interacção com as famílias e a respectiva comunidade.
Neste perspectiva, é citado o estudo que Coleman e Tabin (1992) desenvolveram no Canadá com o objectivo de tentar identificar quais as atitudes facilitadoras da colaboração que influencia positivamente a aprendizagem dos alunos. Os autores referem uma série de passos a ser tidos em conta pelos professores que pretendam facilitar a colaboração com os pais: (1) assumir/compreender que a eficácia dos pais relativamente ao seu envolvimento individual no processo de ensino-aprendizagem depende da iniciativa e do convite dos professores; (2) legitimar a colaboração, lembrando aos pais os seus direitos e responsabilidades; (3) facilitar a colaboração, encorajar a colaboração, desenvolvendo actividades em que os pais e os filhos possam participar em conjunto, o que significa a aceitação do papel de mediador, mesmo entre os pais e os filhos; (4) reconhecer os resultados da colaboração, fornecendo uma informação atempada e adequada do desempenho dos alunos.
A aproximação à família torna-se em muitos casos um processo complicado, pelo facto de os professores que constituem um elemento chave na construção dessas parcerias, não estarem suficientemente preparados para desempenhar esse papel, sendo apontadas em vários estudos relativos à realidade portuguesa as seguintes atitudes: (1) Imagem negativa do papel parental; (2) relutância relativamente à participação dos pais na escola; (3) defesa do estatuto profissional e a preferência pelos pais da classe média que, além de terem uma competência científica semelhante à sua, são educadores esclarecidos.
Uma forma de ultrapassar estas barreiras que se apoiam, sobretudo, em preconceitos, passa pela formação dos professores. São referidos vários estudos desenvolvidos com o objectivo de compreender os factores que condicionam e dificultam a construção de parcerias entre a escola, a família e a comunidade e, por outro, identificar as estratégias que melhor contribuem para o desenvolvimento dessas parcerias.
Neste sentido, a autora refere três pontos fundamentais. Em primeiro lugar, a presença dos facilitadores e o papel crucial que desempenham na formação dos professores, como estrutura de mediação entre a escola e as outras duas instituições. Em segundo lugar, há que ter em conta que a construção de parcerias leva tempo e que dificilmente se constrói sem estruturas de mediação. Por fim, é importante reconhecer a existência de muitos professores que não parecem interessados neste envolvimento, considerando que o seu papel limitado ao ensino dos alunos dentro da sala se aula está muito bem como está.
Resta apenas questionar sobre o tipo de incentivos que será necessário promover para que, além da formação dos professores, do apoio na construção das parcerias e da legislação, o envolvimento parental e o contributo da comunidade sejam uma constante na vida das nossas escolas.